terça-feira, 24 de julho de 2012

Hoje temos poemas de Elizabeth Bishop, poetisa americana que morou no Brasil por cerca de vinte anos.


Elizabeth Bishop (foto), norte-americana nascida em 08 de fevereiro de 1911, Worcester, Massachesetts, EUA. Considerada um das mais importantes poetisas do século XX a escrever na língua inglesa. Teve uma vida complicada desde sua infância quando perdera o pai antes de fazer um ano de idade. Aos cinco anos, sua mãe, por sofrer de transtornos mentais, foi internada num hospital onde permaneceu até a morte, fazendo com que Elizabeth nunca mais a visse. Criada com a família materna em Great Village na Nova Escócia, Canadá, guardou de sua vida inicial lembranças enternecidas e escrevia sobre sua infância de modo idealizado.
Seus primeiros poemas surgiram na revista de Vassar College.
Influenciada por Marianne Moore, sua grande amiga, abandonou a intenção de se tornar médica e se dedicou à poesia.
Residiu em Nova Iorque por um ano, escrevendo poemas mais amadurecidos, entre eles The Map e The Man-Moth. Depois de rejeições por alguns editores, o primeiro de seus volumes de poesiaNorth and South») apareceu em 1946.
Chegou ao Brasil em novembro de 1951 na cidade de Santos-SP onde pretendia ficar duas semanas, porém, acabou ficando vinte anos. O Brasil marcou sua vida como temática de numerosos poemas, contos e cartas.
Residiu no Rio de Janeiro, Petrópolis e Ouro Preto.
Traduziu, com sensibilidade, a produção de grandes poetas como Carlos Drummond de Andrade (seu preferido, que lhe beijou cavalheirescamente a mão quando a conheceu), Cecília Meireles, Manuel Bandeira  e  o livro “Minha Vida de Menina”, de Helena Morley.
Voltou para os Estados Unidos, definitivamente, em 1970.
Em 1976, foi à primeira mulher a receber o International Neustadt Prize for Literature* (prêmio internacional Neustadt de Literatura) e continua sendo o único americano a recebê-lo.
Não admitia ter pena de si mesma, mas seus poemas mal escondem todas as dificuldades como mulher, como lésbica, como órfã, como viajante sem raízes, ou asmática frequentemente hospitalizada, mulher que sofria de depressão e por vezes alcoolismo.
Morreu em 6 de outubro de 1979, vítima do rompimento de um aneurisma., deixando menos de cem poemas.


* O Neustadt International Prize for Literature foi o primeiro prêmio literário norte-americano, criado em 1969, destinado a consagrar romancistas, poetas ou dramaturgos.


"Quem falar como ela falou
Levará a lente especial:
Não agranda e nem diminui,
Essa lente filtra o essencial.”

(Poema de João Cabral de Melo Neto em homenagem a Elizabeth Bishop. Está no volume Museu de Tudo)

 

 

Uma Arte

A arte de perder não é nenhum mistério
tantas coisas contém em si o acidente
de perdê-las, que perder não é nada sério.
Perca um pouco a cada dia. Aceite austero,
a chave perdida, a hora gasta bestamente.
A arte de perder não é nenhum mistério.
Depois perca mais rápido, com mais critério:
lugares, nomes, a escala subseqüente
da viagem não feita. Nada disso é sério.
Perdi o relógio de mamãe. Ah! E nem quero
lembrar a perda de três casas excelentes.
A arte de perder não é nenhum mistério.
Perdi duas cidades lindas. Um império
que era meu, dois rios, e mais um continente.
Tenho saudade deles. Mas não é nada sério.
Mesmo perder você ( a voz, o ar etéreo, que eu amo)
não muda nada. Pois é evidente
que a arte de perder não chega a ser um mistério
por muito que pareça (escreve) muito sério.


(Elizabeth Bishop; tradução de Paulo Henriques Brito)




Canção do tempo das chuvas

Numa obscura era de água
o riacho canta de dentro da caixa torácica
das samambaias gigantes;
por entre a mata grossa
o vapor sobe, sem esforço,
e vira para trás, e envolve
rocha e casa
numa nuvem só nossa.

À noite, no telhado,
gotas cegas escorrem,
e a coruja canta sua copla
nos prova
que sabe contar:
cinco vezes – sempre cinco –
bate o pé e decola
atrás das rãs gordas, que
coaxam de amor
em plena cópula.

(Elizabeth Bishop; tradução de Paulo Henriques Brito)




Shampoo

No teu cabelo negro brilham estrelas
cadentes, arredias.
Para onde irão elas
tão cedo, resolutas?
– Vem, deixa eu lavá-lo, aqui nesta bacia
amassada e brilhante como a lua.


(Elizabeth Bishop; tradução de Paulo Henriques Brito)





Just North of Boston

Winter twilight: miles of advertising.
—One doesn't know whether to laugh or cry.
Lights chasing each other round and round;
lights running at us screaming letters.
If only we didn't know how to read,
or if they screamed Chinese or Arabic,
would we consider them beautiful?
You say "It's possible."
But look—an 18th-century man-of-war
has run aground: She's struggling there
against the rocks, her lights still lit,
directing rescue operations. No—
it's worse: it's half a man-of-war.
Now come the wedding clothes for rent:
six brides are standing in a row,
dresses agleam like glare-ice; next, their grooms,
with ruffled shirt-fronts, pink or blue,
all on a brilliant stage, on stilts.
How can they meet? When will they marry?
Gold! Gold. A Burmese temple? Balinese?
An Oriental-something roof, with grinning
dragons. Just beyond,
an ice-cream cone à gratte-ciel
outlined in glowing yellow, glowing rose
on top—the ice cream—strawberry.
Twelve Hereford steer, three Hereford calves
of sturdy plaster are deployed …

(Elizabeth Bishop)



Florida

Look at the Lears upon the beach!
No beards, but gray hairs on their chests
         Like city-snow,
         All gently blow.
Each upon his elbow rests,
With a young lady stretched by each,
In pale blue tights her lovely form;
Ophelia prostrate by the sea
         Casts large, sad eyes on
         The bright horizon.
The sun invades all those who flee
Far from the love affair, far from the storm.

(Elizabeth Bishop)







Um comentário:

Emanuel Neri disse...

Jane.
Parabéns pelo belo blog. Poesias lindas, poetas e poetisas de primeiríssimo time. Conteúdo excelente. E os poemas da Elizabeth Bishop, que eu gosto muito, estão de arrepiar. Tudo muito bom.