quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Federico Garcia Lorca, escritor militante fuzilado pelas tropas franquistas


Federico Garcia Lorca (foto) nasceu em 5 de junho de 1898 na região de Granada, Espanha. Estudou direito e letra. Foi um poeta, dramaturgo e, devido aos seus alinhamentos políticos com a República, além de ser abertamente homossexual, foi uma das primeiras vítimas da Guerra Civil Espanhola. Inspirado pelas paisagens de sua terra natal, publicou seu primeiro livro em 1918, tendo como título Impressões e Paisagens. Depois de um ano mudou-se para Madrid, tornando-se amigo de vários artistas entre eles, Luis Buñuel, Salvador Dali e Pedro Salinas.
 García Lorca em 1931 criou a companhia teatral "La Barraca", que passou a se apresentar por todo país encenando autores clássicos espanhóis. Seu teatro era feito no meio da rua, em um barracão. Ele também lutava contra o poder do ditador Franco.
Como poeta, Lorca publicou mais de uma dezena de livros, entre eles "Romance Cigano", "Poeta em Nova York", "Seis Poemas Galegos" e "Cantares Populares". A poesia de Garcia Lorca é simples e direta, e seu estilo doce e comovente tem encantado gerações de leitores. Sua poesia tocante também registrou o modo de viver das pessoas mais simples e buscou resistir contra todo tipo de opressão.
Em 1936, ano da eclosão da Guerra Civil Espanhola, García Lorca foi preso. Sem julgamento, o grande poeta foi executado com um tiro na nuca pelos nacionalistas, tendo o corpo jogado num ponto da Serra Nevada. Algumas versões dizem que ele teria sido fuzilado de costas em referência a sua homossexualidade. Em sua curta existência, Lorca deixou importantes obras-primas da literatura, muitas delas publicadas postumamente, dentre as quais, Livro de Poemas – 1921; Ode a Salvador Dalí – 1926; Canciones (1921-24) – 1927; Sonetos del Amor Oscuro – 193; Cartas aos Amigos – 1950; A sapateira prodigiosa - 1930.



Este é o Prólogo

Deixaria neste livro
toda minha alma.
Este livro que viu
as paisagens comigo
e viveu horas santas.

Que compaixão dos livros
que nos enchem as mãos
de rosas e de estrelas
e lentamente passam!

Que tristeza tão funda
é mirar os retábulos
de dores e de penas
que um coração levanta!

Ver passar os espectros
de vidas que se apagam,
ver o homem despido
em Pégaso sem asas.

Ver a vida e a morte,
a síntese do mundo,
que em espaços profundos
se miram e se abraçam.

Um livro de poemas
é o outono morto:
os versos são as folhas
negras em terras brancas,

e a voz que os lê
é o sopro do vento
que lhes mete nos peitos
— entranháveis distâncias. —

O poeta é uma árvore
com frutos de tristeza
e com folhas murchadas
de chorar o que ama.

O poeta é o médium
da Natureza-mãe
que explica sua grandeza
por meio das palavras.

O poeta compreende
todo o incompreensível,
e as coisas que se odeiam,
ele, amigas as chama.

Sabe ele que as veredas
são todas impossíveis
e por isso de noite
vai por elas com calma.

Nos livros seus de versos,
entre rosas de sangue,
vão passando as tristonhas
e eternas caravanas,

que fizeram ao poeta
quando chora nas tardes,
rodeado e cingido
por seus próprios fantasmas.

Poesia, amargura,
mel celeste que mana
de um favo invisível
que as almas fabricam.

Poesia, o impossível
feito possível. Harpa
que tem em vez de cordas
chamas e corações.

Poesia é a vida
que cruzamos com ânsia,
esperando o que leva
nossa barca sem rumo.

Livros doces de versos
são os astros que passam
pelo silêncio mudo
para o reino do Nada,
escrevendo no céu
as estrofes de prata.

Oh! que penas tão fundas
e nunca aliviadas,
as vozes dolorosas
que os poetas cantam!

Deixaria no livro
neste toda a minha alma...

Federico García Lorca, in 'Poemas Esparsos'





E Eu te Beijava

E eu te beijava
sem me dar conta
de que não te dizia:
Oh lábios de cereja!

Que grande romântica
eras!
Bebias vinagre às escondidas
de tua avó.
Toda te enfeitaste como um
arbusto de primavera.
E eu estava enamorado
de outra. Vê que pena?
De outra que escrevia
um nome sobre a areia.

Federico García Lorca, in 'Poemas Esparsos'





O Poeta Pede a Seu Amor que lhe Escreva

 Meu entranhado amor, morte que é vida,
tua palavra escrita em vão espero
e penso, com a flor que se emurchece
que se vivo sem mim quero perder-te.

O ar é imortal. A pedra inerte
nem a sombra conhece nem a evita.
Coração interior não necessita
do mel gelado que a lua derrama.

Porém eu te suportei. Rasguei-me as veias,
sobre a tua cintura, tigre e pomba,
em duelo de mordidas e açucenas.

Enche minha loucura de palavras
ou deixa-me viver na minha calma
e para sempre escura noite d'alma.

Federico García Lorca, in 'Poemas Esparsos'


Cacida da Mão Impossível

Não quero mais que uma mão,
mão ferida, se possível.
Não quero mais que uma mão,
inda que passe noites mil sem cama.

Seria um lírio pálido de cal,
uma pomba atada ao meu coração,
o guarda que na noite do meu trânsito
de todo vetaria o acesso à lua.

Não quero mais que essa mão
para os diários óleos e a mortalha de minha agonia.
Não quero mais que essa mão
para de minha morte ter uma asa.

Tudo mais passa.
Rubor sem nome mais, astro perpétuo.
O demais é o outro; vento triste
enquanto as folhas fogem debandadas.

Federico García Lorca, in 'Divã do Tamarit'


Sinto

Sinto
que em minhas veias arde
sangue,
chama vermelha que vai cozendo
minhas paixões no coração.

Mulheres, por favor,
derramai água:
quando tudo se queima,
só as fagulhas voam
ao vento.

Federico García Lorca, in 'Poemas Esparsos'

 

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Hoje veremos poemas de Manuel Bandeira um grande representante do Modernismo brasileiro.



Manuel Banderia é dos meus poetas preferidos (como muitos outros). Pus vários de seus poemas. Alguns não poderia deixar de citá-los, como é o caso de PoéticaNua, dois dos  meus favoritos.





Manuel Carneiro de Sousa Bandeira Filho (foto), nasceu em 19 de abril de 1886 na cidade de Recife-PE. Foi um representante do Modernismo brasileiro. Poeta, crítico literário e de arte, professor de literatura e tradutor brasileiro.
Tendo seu primeiro livro, A cinza das horas, publicado em 1917, dando continuidade então à sua produção literária, publicando também outra obra, em 1919, Carnaval.
Seus poemas transmitem emoções. Assim sendo, sua criação se subdividi-se em três vertentes básicas: a fase pós-simbolista, na qual deixa escapar traços ainda ligados ao espírito decadentista do Simbolismo, como também à musicalidade formal. Como é o caso do poema Desencanto. A fase modernista, na qual ele “direciona” seus versos para uma linguagem envolta por um tom coloquialista (fazendo uso dos versos livres e brancos), exemplo do poema Poética. E por fim A fase pós-modernista, na qual ele faz uma espécie de mesclagem entre o uso dos versos rimados e tradicionais com o uso de versos livres e brancos, bem como as formas populares, como o rondó – caracterizado por um poema com apenas duas rimas e formado de três estrofes, totalizando quinze versos.

*Alguns dados foram tirados do site Brasil Escola.





DESENCANTO

Eu faço versos como quem chora
De desalento. . . de desencanto. . .
Fecha o meu livro, se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto.

Meu verso é sangue. Volúpia ardente. . .
Tristeza esparsa... remorso vão...
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.

E nestes versos de angústia rouca,
Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca.

- Eu faço versos como quem morre.




POÉTICA

Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público
com livro de ponto
expediente protocolo e manifestações
de apreço ao sr. diretor

Estou farto do lirismo que pára e
vai averiguar no dicionário
o cunho vernáculo de um vocábulo

Abaixo os puristas

Todas as palavras sobretudo os
 barbarismos universais
Todas as construções sobretudo
 as sintaxes de exceção
Todos os ritmos sobretudo
 os inumeráveis

Estou farto do lirismo
namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que
 quer que seja fora de si mesmo.

De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de co-senos
 secretário do amante exemplar
com cem modelos de cartas e as
diferentes maneiras de agradar
às mulheres, etc.

Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbados
O lirismo difícil e pungente dos bêbados
O lirismo dos clowns de Shakespeare

- Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.





RONDÓ DOS CAVALINHOS

Os cavalinhos correndo,
E nós, cavalões, comendo...
Tua beleza, Esmeralda,
Acabou me enlouquecendo.

Os cavalinhos correndo,
E nós, cavalões, comendo...
O sol tão claro lá fora
E em minhalma — anoitecendo!

Os cavalinhos correndo,
E nós, cavalões, comendo...
Alfonso Reys partindo,
E tanta gente ficando...

Os cavalinhos correndo,
E nós, cavalões, comendo...
A Itália falando grosso,
A Europa se avacalhando...

Os cavalinhos correndo,
E nós, cavalões, comendo...
O Brasil politicando,
Nossa! A poesia morrendo...
O sol tão claro lá fora,
O sol tão claro, Esmeralda,
E em minh’alma — anoitecendo!



NUA


Quando estás vestida,
Ninguém imagina
Os mundos que escondes
Sob as tuas roupas.

Assim, quando é dia,
Não temos noção
Dos astros que luzem
No profundo céu.

Mas a noite é nua,
E, nua na noite,
Palpitam teus mundos
E os mundos da noite.

Brilham teus joelhos,
Brilha o teu umbigo,
Brilha toda a tua
Lira abdominal.

Teus exíguos
- Como na rijeza
Do tronco robusto
Dois frutos pequenos –
Brilham.

Ah, teus seios!
Teus duros mamilos!
Teu dorso! Teus flancos!
Ah, tuas espáduas!
Se nua, teus olhos
Ficam nus também:
Teu olhar, mais longe,
Mais lento, mais líquido.

Então, dentro deles,
Bóio, nado, salto
Baixo num mergulho
Perpendicular.

Baixo até o mais fundo
De teu ser, lá onde
Me sorri tu’alma
Nua, nua, nua…




POEMETO ERÓTICO


Teu corpo claro e perfeito,

- Teu corpo de maravilha,

Quero possuí-lo no leito

Estreito da redondilha...

Teu corpo é tudo o que cheira...

Rosa... flor de laranjeira...

Teu corpo, branco e macio,

É como um véu de noivado...

Teu corpo é pomo doirado...

Rosal queimado do estio,

Desfalecido em perfume...

Teu corpo é a brasa do lume...

Teu corpo é chama e flameja

Como à tarde os horizontes...

É puro como nas fontes

A água clara que serpeja,

Que em cantigas se derrama...

Volúpia da água e da chama...

A todo momento o vejo...

Teu corpo... a única ilha

No oceano do meu desejo...

Teu corpo é tudo o que brilha,

Teu corpo é tudo o que cheira...

Rosa, flor de laranjeira...





RECIFE


Há quanto tempo que não te vejo!

Não foi por querer, não pude.

Nesse ponto a vida me foi madrasta,

Recife.

Mas não houve dia em não te sentisse dentro de mim:

Nos ossos, nos olhos, nos ouvidos, no sangue, na carne,

Recife.

Não como és hoje,

Mas como eras na minha infância,

Quando as crianças brincavam no meio da rua

(Não havia ainda automóveis)

E os adultos conversavam de cadeira nas calçadas

(Continuavas província,

Recife).

Eras um Recife sem arranha-céus, sem comunistas,

sem Arrais, e com arroz,

Muito arroz,

De água e sal,

Recife.

Um Recife ainda do tempo em que o meu avô materno

Alforriava espontaneamente

A moça preta Tomásia, sua escrava,

Que depois foi a nossa cozinheira

Até morrer,

Recife.


Ainda existirá a velha casa senhorial do Monteiro?

Meu sonho era acabar morando e morrendo

Na velha casa do Monteiro.

Já que não pode ser,

Quero na hora da morte, estar lúcido

Para te mandar a ti o meu último pensamento,

Recife.

Ah Recife, Recife, non possidebis ossa mea!

Nem os ossos nem o busto,

Que me adianta um busto depois de eu morto?

Depois de morto não me interesará senão, se possível,

Um cantinho no céu,

"Se o não sonharam", como disse o meu querido João de Deus,

Recife.

terça-feira, 24 de julho de 2012

Hoje temos poemas de Elizabeth Bishop, poetisa americana que morou no Brasil por cerca de vinte anos.


Elizabeth Bishop (foto), norte-americana nascida em 08 de fevereiro de 1911, Worcester, Massachesetts, EUA. Considerada um das mais importantes poetisas do século XX a escrever na língua inglesa. Teve uma vida complicada desde sua infância quando perdera o pai antes de fazer um ano de idade. Aos cinco anos, sua mãe, por sofrer de transtornos mentais, foi internada num hospital onde permaneceu até a morte, fazendo com que Elizabeth nunca mais a visse. Criada com a família materna em Great Village na Nova Escócia, Canadá, guardou de sua vida inicial lembranças enternecidas e escrevia sobre sua infância de modo idealizado.
Seus primeiros poemas surgiram na revista de Vassar College.
Influenciada por Marianne Moore, sua grande amiga, abandonou a intenção de se tornar médica e se dedicou à poesia.
Residiu em Nova Iorque por um ano, escrevendo poemas mais amadurecidos, entre eles The Map e The Man-Moth. Depois de rejeições por alguns editores, o primeiro de seus volumes de poesiaNorth and South») apareceu em 1946.
Chegou ao Brasil em novembro de 1951 na cidade de Santos-SP onde pretendia ficar duas semanas, porém, acabou ficando vinte anos. O Brasil marcou sua vida como temática de numerosos poemas, contos e cartas.
Residiu no Rio de Janeiro, Petrópolis e Ouro Preto.
Traduziu, com sensibilidade, a produção de grandes poetas como Carlos Drummond de Andrade (seu preferido, que lhe beijou cavalheirescamente a mão quando a conheceu), Cecília Meireles, Manuel Bandeira  e  o livro “Minha Vida de Menina”, de Helena Morley.
Voltou para os Estados Unidos, definitivamente, em 1970.
Em 1976, foi à primeira mulher a receber o International Neustadt Prize for Literature* (prêmio internacional Neustadt de Literatura) e continua sendo o único americano a recebê-lo.
Não admitia ter pena de si mesma, mas seus poemas mal escondem todas as dificuldades como mulher, como lésbica, como órfã, como viajante sem raízes, ou asmática frequentemente hospitalizada, mulher que sofria de depressão e por vezes alcoolismo.
Morreu em 6 de outubro de 1979, vítima do rompimento de um aneurisma., deixando menos de cem poemas.


* O Neustadt International Prize for Literature foi o primeiro prêmio literário norte-americano, criado em 1969, destinado a consagrar romancistas, poetas ou dramaturgos.


"Quem falar como ela falou
Levará a lente especial:
Não agranda e nem diminui,
Essa lente filtra o essencial.”

(Poema de João Cabral de Melo Neto em homenagem a Elizabeth Bishop. Está no volume Museu de Tudo)

 

 

Uma Arte

A arte de perder não é nenhum mistério
tantas coisas contém em si o acidente
de perdê-las, que perder não é nada sério.
Perca um pouco a cada dia. Aceite austero,
a chave perdida, a hora gasta bestamente.
A arte de perder não é nenhum mistério.
Depois perca mais rápido, com mais critério:
lugares, nomes, a escala subseqüente
da viagem não feita. Nada disso é sério.
Perdi o relógio de mamãe. Ah! E nem quero
lembrar a perda de três casas excelentes.
A arte de perder não é nenhum mistério.
Perdi duas cidades lindas. Um império
que era meu, dois rios, e mais um continente.
Tenho saudade deles. Mas não é nada sério.
Mesmo perder você ( a voz, o ar etéreo, que eu amo)
não muda nada. Pois é evidente
que a arte de perder não chega a ser um mistério
por muito que pareça (escreve) muito sério.


(Elizabeth Bishop; tradução de Paulo Henriques Brito)




Canção do tempo das chuvas

Numa obscura era de água
o riacho canta de dentro da caixa torácica
das samambaias gigantes;
por entre a mata grossa
o vapor sobe, sem esforço,
e vira para trás, e envolve
rocha e casa
numa nuvem só nossa.

À noite, no telhado,
gotas cegas escorrem,
e a coruja canta sua copla
nos prova
que sabe contar:
cinco vezes – sempre cinco –
bate o pé e decola
atrás das rãs gordas, que
coaxam de amor
em plena cópula.

(Elizabeth Bishop; tradução de Paulo Henriques Brito)




Shampoo

No teu cabelo negro brilham estrelas
cadentes, arredias.
Para onde irão elas
tão cedo, resolutas?
– Vem, deixa eu lavá-lo, aqui nesta bacia
amassada e brilhante como a lua.


(Elizabeth Bishop; tradução de Paulo Henriques Brito)





Just North of Boston

Winter twilight: miles of advertising.
—One doesn't know whether to laugh or cry.
Lights chasing each other round and round;
lights running at us screaming letters.
If only we didn't know how to read,
or if they screamed Chinese or Arabic,
would we consider them beautiful?
You say "It's possible."
But look—an 18th-century man-of-war
has run aground: She's struggling there
against the rocks, her lights still lit,
directing rescue operations. No—
it's worse: it's half a man-of-war.
Now come the wedding clothes for rent:
six brides are standing in a row,
dresses agleam like glare-ice; next, their grooms,
with ruffled shirt-fronts, pink or blue,
all on a brilliant stage, on stilts.
How can they meet? When will they marry?
Gold! Gold. A Burmese temple? Balinese?
An Oriental-something roof, with grinning
dragons. Just beyond,
an ice-cream cone à gratte-ciel
outlined in glowing yellow, glowing rose
on top—the ice cream—strawberry.
Twelve Hereford steer, three Hereford calves
of sturdy plaster are deployed …

(Elizabeth Bishop)



Florida

Look at the Lears upon the beach!
No beards, but gray hairs on their chests
         Like city-snow,
         All gently blow.
Each upon his elbow rests,
With a young lady stretched by each,
In pale blue tights her lovely form;
Ophelia prostrate by the sea
         Casts large, sad eyes on
         The bright horizon.
The sun invades all those who flee
Far from the love affair, far from the storm.

(Elizabeth Bishop)







sexta-feira, 20 de julho de 2012

Em homenagem a minha cidade São Miguel do Gostoso-RN que fez aniversário em 16 de julho, veremos o Poema Gostoso Encanto que tem a autoria de Heldene Santos

Heldene Santos (foto) é Licenciado em Pedagogia (UFRN). Especialista em Tecnologias e Educação (PUC-RJ). Pesquisador em Estratégias de Gestão e Empreendedorismo Social. Além disso, é um grande poeta, casado com minha irmã, Rafaela Dones, e pai do Ícaro. Algumas de sua poesias estão publicadas em vários blogs, entre eles, o minhacomunidade.net



Gostoso Encanto


Canto dos deuses, que Gostoso
Pedaço de um Brasil formoso
De belo céu azul anil

Que belas praias que vontade
De ver da lua a claridade
Do sol a luz acontecer

Tem o mar um azul que nos domina
Um por do sol que nos fascina
Mais um lual até o amanhecer

Cheguemos a Praia do Marco
Buscando a história, o passado
Pois o Brasil nasceu aqui

Praias da Xepa, do Cardeiro
Do Santo Cristo, os coqueiros
O Maceió, os jangadeiros

Rico folclore o povo canta
Vem ver da fauna e a flora a dança
A voz do vento ao coração

Felicidades ao relento
Podemos ver a todo momento
Terras férteis, plantações

Sol, dias quentes, noites frias
Vegetação rara, queria
Esse vento do litoral

Belo reduto, morros, tanto
Amor bonito que exclamo:
- Gostoso paraíso feliz!

Então recito um belo canto
Da bela moça o encanto
De um pedacinho do Brasil

(Heldene Santos)

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Leitores, hoje vamos ver poemas de Florbela Espanca, poetisa portuguesa que, somente após 18 anos de sua morte, fora reconhecida em cartório como filha de seu pai, João Maria Espanca.


 
Nascida em 08 de dezembro de 1894 em Vila Viçosa, Alentejo, Portugal, Flor Bela de Alma da Conceição Espanca (foto) ou Flor d’Alma da Conceição Espanca (como passou a assinar) foi uma das primeiras mulheres a frequentar o curso secundário em Portugal, fato que era visto com maus olhos tanto por homens quanto por professores.
Aos sete anos de idade Florbela faz seu primeiro poema, A Vida e a Morte, onde a partir deste, fica visível sua preferência a temas recônditos e melancólicos.
Aos 14 anos escreve seu primeiro conto, “Mamã!”, no ano seguinte, perde sua mãe.  
Em 1916 a poetisa inaugura o projeto Trocando Olhares com uma coletânea de oitenta e cinco poemas e três contos, ponto de partida para futuras publicações. No entanto, suas primeiras tentativas em suscitar suas poesias não foram das melhores, tendo assim fracasso. Por outro lado, em 1919, três anos depois, sai sua primeira obra, Livro de Mágoas, que publicara sonetos, onde consegue êxito com cerca de duzentos exemplares vendidos.
Casada aos 19 anos e depois de sofrer as consequências de um aborto, Florbela apresenta os primeiros sinais sérios de neurose.
Depois da morte de seu irmão, Apeles Espanca, em 1917, onde a abala drasticamente, Florbela escreve o conjunto de contos de As Máscaras do Destino, volume publicado postumamente em 1931. Entretanto, sua doença mental passa a agravar bastante.
Depois de duas tentativas de suicídio, e após o diagnóstico de um edema pulmonar, a poetisa perde definitivamente a vontade de viver. Não resistindo à terceira tentativa de suicídio, falece no dia do seu aniversário onde completaria 36 anos, em 08 de dezembro de 1930. A causa da morte foi ter ingerido dois frascos de Veronal.









ALMA PERDIDA


Toda esta noite o rouxinol chorou,
Gemeu, rezou, gritou perdidamente!
Alma de rouxinol, alma da gente,
Tu és, talvez, alguém que se finou!
Tu és, talvez, um sonho que passou,
Que se fundiu na Dor, suavemente…
Talvez sejas a alma, a alma doente
D’alguém que quis amar e nunca amou!
Toda a noite choraste… e eu chorei
Talvez porque, ao ouvir-te, adivinhei
Que ninguém é mais triste do que nós!
Contaste tanta coisa à noite calma,
Que eu pensei que tu eras a minh’alma
Que chorasse perdida em tua voz!…





DESEJOS VÃOS


Eu queria ser o Mar de altivo porte
Que ri e canta, a vastidão imensa!
Eu queria ser a Pedra que não pensa,
A pedra do caminho, rude e forte!
Eu queria ser o Sol, a luz intensa,
O bem do que é humilde e não tem sorte!
Eu queria ser a árvore tosca e densa
Que ri do mundo vão e até da morte!
Mas o Mar também chora de tristeza…
As árvores também, como quem reza,
Abrem, aos Céus, os braços, como um crente!
E o Sol altivo e forte, ao fim de um dia,
Tem lágrimas de sangue na agonia!
E as Pedras… essas… pisa-as toda a gente!…







CEGUEIRA BENDITA


Ando perdida nestes sonhos verdes
De ter nascido e não saber quem sou,
Ando ceguinha a tatear paredes
E nem ao menos sei quem me cegou!
Não vejo nada, tudo é morto e vago…
E a minha alma cega, ao abandono
Faz-me lembrar o nenúfar dum lago
´Stendendo as asas brancas cor do sonho…
Ter dentro d´alma na luz de todo o mundo
E não ver nada nesse mar sem fundo,
Poetas meus irmãos, que triste sorte!…
E chamam-nos a nós Iluminados!
Pobres cegos sem culpas, sem pecados,
A sofrer pelos outros té à morte!

Florbela Espanca - Trocando olhares - 24/04/1917




HUMILDADE


Toda a terra que pisas, eu q’ria, ajoelhada,
Beijar terna e humilde em lânguido fervor;
Q’ria poisar fervente a boca apaixonada
Em cada passo teu, ó meu bendito amor!
De cada beijo meu, havia de nascer
Uma sangrenta flor! Ébria de luz, ardente!
No colo purpurino havia de trazer
Desfeito no perfume o mist’rioso Oriente!
Q’ria depois colher essas flores reais,
Essas flores de sonho, estranhas, sensuais,
E lançar-tas aos pés em perfumados molhos.
Bem paga ficaria, ó meu cruel amante!
Se, sobre elas, eu visse apenas um instante
Cair como um orvalho os teus divinos olhos!

Florbela Espanca - Trocando olhares - 12/07/1916



A DOIDA


A noite passa, noivando.
Caem ondas de luar.
Lá passa a doida cantando
Que mais parece chorar!
Dizem que doi morte
D´alguém, que muito lhe quis,
Que endoideceu, triste sorte!
Que dor tão triste e tão forte!
Como um dido é infeliz!
Desde que ela endoideceu,
(Que triste vida, que mágoa!)
pobrezinha, olhando céu,
Chama o noivo que morreu
Com os olhos rasos d´água!
E a noite passa, noivando.
Passa noivando luar:
“Num suspiro doce e brando,
Podre doida vai cantando
Que esse teu canto, é chorar!”


Florbela Espanca - Trocando olhares







Vejo-me triste, abandonada e só
Bem como um cão sem dono e que o procura,
Mais pobre e desprezada do que Job
A caminhar na via da amargura!
Judeu Errante que a ninguém faz dó!
Minh’alma triste, dolorida e escura,
Minh’alma sem amor é cinza e pó,
Vaga roubada ao Mar da Desventura!
Que tragédia tão funda no meu peito!…
Quanta ilusão morrendo que esvoaça!
Quanto sonho a nascer e já desfeito!
Deus! Como é triste a hora quando morre…
O instante que foge, voa, e passa…
Fiozinho de água triste…a vida corre…





SUAVIDADE


Pousa a tua cabeça dolorida
Tão cheia de quimeras, de ideal,
Sobre o regaço brando e maternal
Da tua doce Irmã compadecida.
Hás-de contar-me nessa voz tão qu’rida
A tua dor que julgas sem igual,
E eu, pra te consolar, direi o mal
Que à minha alma profunda fez a Vida.
E hás-de adormecer nos meus joelhos…
E os meus dedos enrugados, velhos,
Hão-de fazer-se leves e suaves…
Hão-de pousar-se num fervor de crente,
Rosas brancas tombando docemente,
Sobre o teu rosto, como penas de aves…








domingo, 15 de julho de 2012

Mais poesias minhas postadas com muito carinho!





 MONÓLOGO

Se minhas lágrimas querem cair que caiam.


Não tenho culpa alguma.

Ó lágrimas minhas por que é de teu caráter

viver em utopia?

Tudo que te faz cair são tristezas, descaso

ou até mesmo alegrias.

Meus olhos não tem culpa de que meus

ouvidos viva em monotonia;

se o mundo não é júbilo não serei eu

o implícito da desarmonia.





NA CALADA DO AMANHECER


(...) Galos a cantar! É começou o dia

que ainda aparenta ser noite. 


A monotonia do silêncio esperando mudar


sua rotina; os lençóis de neve desejando que a


noite vá para cobrir o dia.


Eu aqui apensar no que ainda não sei se vou viver.


Poderia estar vivendo o presente!


... Mas uma vez os galos cantam e eles já haviam


planejado para cantarem novamente assim que terminassem.


Parabéns galos que lograram êxito.


É o que importa?





POR UM FIO


Quase nada, por um fio não faço nada.

Por um fio quase fiz o que eu não sei se quero fazer.

Por um fio, surge um novo coração a bater dentro de um ventre.

Por um fio morre e nasce alguém. Por um fio, o “por um fio” acaba:

o que será que irá acontecer se não tiver algo que seja “por um fio”?

... Por nós resta sermos por um fio.





.../.../2011



Vida! Quero apenas vida para quem deseja viver.

Sonhos para quem precisa sonhar, água para os que

Têm sede e comida para os que têm fome.

Tudo para os que têm nada, que mesmo assim

ainda é feliz, mas precisa da felicidade.

Nada para os que têm tudo, que mesmo fraco ou

Moribundo precisa de algo para matar sua

necessidade de ter.

Nada? Tudo pra mim

Tudo? Nada pra mim.